17 de ago. de 2011

Com a compra da Motorola Mobility, Google mira no modelo da Apple


Analistas afirmam que a fornecedora do Android está em busca da integração de hardware e software, com controle sobre todo o ecossistema.

Analistas discordam sobre o impacto que a proposta da Google de US$ 12,5 bilhões pela aquisição da Motorola Mobility terá sobre as dinâmicas entre o sistema operacional móvel Android e o iOS da Apple.
Para o analista de Wall Street da Ticonderoga Securities, Brian White, a iniciativa da Google cheira a uma admissão de que ele precisa imitar o controle da Apple sobre a plataforma iOS. “Há uma tendência em outras partes da TI em direção do controle de hardware e software”, afirmou White. “A ação da Google torna válido o modelo que a Apple usa.”
White argumentou que o acordo “fala em preocupações que a Google tinha em competir com a Apple a longo prazo”.
Presumindo que a compra seja aprovada - a Google disse que iria fechar a transação no final de 2011 ou no começo de 2012 - a Motorola Mobility vai continuar a operar como uma empresa separada.

Em um depoimento, o CEO da Google, Larry Page, declarou que a aquisição vai “turbinar todo o ecossistema Android”.
Mas White, que cobre apenas Apple, viu isso como uma forma de reconhecimento de que o Android enfrenta problemas de longo prazo competindo com a fabricante do iPhone, tanto em tecnologia, quanto no tribunal.
Com a Motorola em mãos, a Google terá não apenas o sistema operacional móvel, mas também uma fornecedora de smartphones para fabricar dispositivos específicos, permitindo replicar a estratégia da concorrente. “Isso vai dar à empresa o total controle da experiência do usuário, assim como a Apple faz”, afirmou White.
Outras fabricantes de celulares não estão felizes com a aquisição da Google, segundo o analista, mesmo que a empresa tendo dito que nada vai mudar em relação aos acordos com outras marcas de smartphones que usam sistema Android.
“Não acredito nisso”, declarou White. “Essencialmente, eles estarão competindo diretamente contra a Google. O Nexus era uma coisa – era apenas um aparelho e feito de maneira pobre – mas a Motorola, com 10,6 milhões de celulares no trimestre - é outra. Com o Nexus, a Google não tinha a dimensão da Apple...Agora ela tem”.
Outros enxergaram de maneira diversa o impacto da iniciativa da empresa no iOS da Apple. “A Google pode estar tentada a produzir um supersmartphone com Android, mas eles irão resistir à ela”, disse Ezra Gottheil, do Technology Business Research. Diferentemente de White, Gottheil é expert em Apple e Android.
“Essa não é uma situação em que a Google queria quebrar acordos", declarou Gottheil, ressaltando o sucesso dos smartphones Android. “Há uma tentação ali, mas o negócio central não vai permitir que eles façam isso. Os dispositivos Android e mesmo os tablets serão uma preocupação, e basicamente a empresa vai abastecer os cofres...Eles não querem levar os OEMs para as mãos da Microsoft”.
Os especialistas concordam que a aquisição da Motorola, que vai também dar à Google uma quantidade enorme de patentes, coloca a empresa em uma melhor posição na disputa. A Apple processou agressivamente diversas fabricantes que usam o OS móvel Android, incluindo a Motorola, Samsung e a HTC, por alegar que as companhias infringiram patentes.
De fato, o CEO da Google mencionou o ângulo das patentes em uma postagem em seu blog após a compra ter sido anunciada. “A aquisição aumentará nossa competitividade, alinhando o portifólio de patentes, o que vai nos permitir proteger melhor o Android de ameaças anti-competitivas da Microsoft, Apple e outras empresas”, escreveu.
Em uma conferência, o principal advogado da gigante das buscas, David Drummond - que há duas semanas criticou os rivais, incluindo a Apple, por travar o que chamou de uma "campanha hostil e organizada contra Android" usando o problema das patentes.

Para o analista alemão Florian Muller, a parte das patentes foi o que levou o preço da aquisição para US$ 12,5 bilhões, ágio de 63% sobre o preço das ações da Motorola sexta-feira.

“Não há dúvidas de que o preço de compra está relacionado, em certa medida,a patentes de mobilidade da Motorola, mas talvez em menor grau do que a maioria pensa ", disse Mueller em uma publicação em seu blog.
Apesar disso, Gottheil afirmou que o acordo foi primariamente movido pela aquisição da patentes. “O negócio acaba com esse problema, o que significa muito para a Google.”.
“O preço que a Google concordou em pagar não reflete o valor da Motorola Mobility como uma empresa única. Esse é o tipo de preço pago por um comprador estrategista que planeja usar o alvo da aquisição como influência no seu próprio negócio”.
White também concorda com isso, argumentando que a batalha fora da corte é a mais importante nesse caso. “É a Google dizendo ‘estamos com receio do que a Apple pode se tornar, então precisamos de uma plataforma de hardware”.

E o impacto direto na Apple? “Isso os ameaça? Não”, afirmou Gottheil. “Ao menos não o iPhone e o iPad. O que a Apple pode estar se perguntando hoje é como a aquisição pode afetar o futuro dos grandes lançamentos, como caixas set-top que podem integrar celulares e PCs com televisões. “Mas eu não acho que eles estão perdendo o sono por isso”, acrescentou o analista.

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