30 de abr. de 2011

a guerra dos tablets


TODOS QUEREM CRIAR RIVAIS PARA O IPAD. MAS MUITOS
NÃO DEVEM SAIR DA FASE DE PROTÓTIPO

A verdadeira guerra no mercado de tablets, no entanto, ainda está por vir. Pouquíssimos fabricantes colocaram seus rivais para a Apple nas lojas – no Brasil, a Samsung é o único. Ao longo deste ano, haverá uma avalanche de modelos com novidades não só no hard-ware, mas também no sistema. Dentro dos tablets, o iOS, da Apple, o Android/Honeycomb, do Google, o Windows 7, da Microsoft, o BlackBerry Tablet, da RIM e o WebOS, da HP, herdado da compra da Palm, vão brigar pelo controle das telas touchscreen. Nesse cenário, Apple e Google caminham para um confronto cada vez mais direto.
A disputa será por um mercado estimado em 54,8 milhões de unidades vendidas até o fim deste ano, com um novo salto para 103,4 milhões em 2012, de acordo com o Gartner. As projeções otimistas se repetem entre outras empresas de pesquisa, muitas das quais andaram revendo suas expectativas para cima. Em janeiro, a Forrester soltou um relatório em que afirma que os tablets vão crescer tão rapidamente quanto os MP3 players. De 2002 a 2006, eles saíram de 10 milhões para 75 milhões de unidades nos Estados Unidos.
Nem é preciso olhar para os números para comprovar a imediata aceitação dos tablets. Na mesma semana em que o iPad foi lançado nos Estados Unidos, era fácil encontrar alguém lendo um livro no tablet dentro de um vagão do metrô em Nova York. E mesmo no Brasil, muito antes da chegada oficial do iPad, no início de dezembro, ele era figurinha fácil entre a turma dos geeks. Tamanha atração está longe de ser explicada apenas pelo hardware. São os aplicativos que dão vida e a real dimensão da utilidade do tablet. Esse foi justamente um dos maiores ingredientes do sucesso da Apple com o iPhone, algo que se repete agora. Na App Store, da Apple, dá para baixar hoje 60.494 aplicativos desenvolvidos para o tablet. “Cheio de aplicativos, o iPad muda radicalmente a sua percepção sobre o tablet. Não carrego mais o notebook quando viajo”, afirma Sergio Chaia, presidente da Nextel.
Além de estimular o mercado de tablets, essas aplicações geram novos negócios e um ambiente próspero para os desenvolvedores. Um exemplo é a empresa paulista FingerTips. Criada em 2008 para fazer aplicativos para iPhone, ela fechou o ano passado com faturamento de R$ 4,5 milhões e 35 funcionários. A atuação vem se expandindo para outras plataformas, mas a Apple ainda domina. “O Android tem sido um segundo passo para as empresas”, diz Breno Masi, diretor de marketing e produtos e um dos fundadores da FingerTips. Dos 60 projetos em produção em janeiro, 30% eram para iPad.
Protótipo à mão
Posicionado em algum lugar entre o smart-phone e o notebook, mas sem pudor em invadir essas fronteiras, o tablet acabou atraindo a atenção de fabricantes de ambos os lados – ou seja, de boa parte da indústria da computação. Dos modelos xing ling produzidos em larga escala nas fábricas da China aos de grife, a ordem é criar rivais para o iPad. Mas a nova safra de tablets investe forte em recursos ausentes no modelo da Apple, como a câmera para videoconferência. Enquanto a Apple prepara a segunda geração do iPad, com Steve Jobs fora do circuito por sua licença médica, os concorrentes reforçam as armas. Uma das munições é o novíssimo processador dual core Tegra, da Nvidia, capaz de dar mais poder de fogo aos tablets. Ele dominou os lançamentos da CES, em Las Vegas. Mas parte dos 80 modelos exibidos na feira deve ficar para sempre apenas no campo do protótipo. “Não há espaço para tantas marcas a longo prazo”, diz Susan Kevorkian, diretora de pesquisas da IDC na área de dispositivos móveis.
A temperatura do mercado brasileiro de tablets pode ser medida por algumas estimativas da própria IDC. Segundo a consultoria, foram vendidas 40 mil unidades em 2010. A expectativa é chegar a 300 mil neste ano. “Acho que será muito mais que isso”, afirma Silvio Stagni, vice-presidente de telecom da Samsung. A marca coreana foi a primeira a colocar oficialmente um tablet nas lojas brasileiras, em 18 de novembro, duas semanas antes do iPad. Uma potência em ascensão no desenvolvimento de tecnologia, a Samsung vem dando motivos concretos de enxaqueca para a turma da Apple. Criou um concorrente capaz de encarar de frente o iPad, o Galaxy Tab. Mas acabou cometendo um deslize de ousadia – o preço. Sem vínculo com operadoras, seu tablet custa R$ 2,7 mil no Brasil. Mesmo sendo fabricado em Campinas, no interior de São Paulo, é mais caro que o iPad e que muitos modelos de notebook.
A maior parte dos tablets da Samsung tem ido direto para as operadoras e são vendidos com subsídios ligados aos pacotes com planos de dados 3G, podendo chegar a preços de até R$ 599. “Suprimos o varejo de forma tímida. As operadoras estão demandando muito”, afirma Stagni. TIM e Claro afirmam que os primeiros lotes do Galaxy Tab se esgotaram rapidamente. “A demanda foi maior do que esperávamos”, diz Patricia Kastrup, diretora de marketing da Claro.
HOJE, VÁRIAS MARCAS COGITAM A PRODUÇÃO NO BRASIL.
MAS AINDA HÁ IMPASSES FISCAIS 

Além dos modelos com formatos mais tradicionais (leia-se, seguindo o modelo do iPad), os fabricantes testam novos conceitos. Empresas como a Samsung e a Asus desenvolveram produtos com um teclado físico deslizante. Para quem tem dúvida se o tablet avança ou não a fronteira do notebook, outra tendência é a de criar modelos híbridos que podem ser destacados de uma base, uma espécie de notebook conversível. O consumidor decide se quer algo mais portátil ou não – e quando. Dell, Lenovo e Asus já apresentaram seus representantes nessa área.
A estreia da americana Dell no mercado brasileiro de tablets se dará justamente por esse conceito, com o Inspiron Duo. Segundo a empresa, o produto deverá chegar às lojas até o fim de março. “Os preços ainda estão sendo definidos, mas ficarão acima dos R$ 2 mil”, diz Sandra Chen, gerente de marketing sênior da Dell. A taiwanesa Asus pretende trazer ao Brasil todos os seus quatro modelos de tablet, com lançamentos escalonados entre o segundo trimestre e o fim do ano. Para alcançar diferentes tipos de consumidor, a empresa investiu em design e sistemas distintos, com Honeycomb e Windows 7.
Os tablets também seduziram a canadense Research in Motion, a RIM, a dona do BlackBerry, sinônimo de smartphone corporativo. De olho nos mais de 55 milhões de assinantes da plataforma no mundo, a empresa se prepara para lançar o PlayBook, que rodará o sistema BlackBerry Tablet e permitirá fazer a sincronização com os smartphones da marca. O tablet deve chegar ao Brasil no segundo trimestre de 2011, segundo Rick Costanzo, diretor-geral para a América Latina da RIM.

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